![]() O Encontro no Cais
O vento salgado do porto enroscava-se nos cabelos de Marilda, trazendo o cheiro de peixe e alcatrão. Ela ajustou o xale sobre os ombros, os dedos tremendo não por causa do frio, mas da espera. Hermes apareceu ao longe, a silhueta desenhada contra o céu cor de chumbo. Seus passos eram lentos, arrastados, como se cada movimento custasse um esforço imenso. Marilda sorriu antes mesmo de vê-lo de perto, mas o sorriso congelou quando ele ergueu o rosto. Seus olhos, sempre tão vivos, estavam vermelhos, as pálpebras pesadas. Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu—apenas um suspiro rouco, como se alguém lhe tivesse apertado a garganta. Ela esticou a mão, os dedos dele eram gelados quando os tocou. —O que houve? —a voz dela era um fio, quase engolida pelo barulho das gaivotas. Hermes fechou os olhos. Apertou a bolsa de couro que carregava no ombro, os nós dos dedos brancos de tanto pressionar. Quando finalmente falou, as palavras saíram em pedaços: —O barco… o barco do seu João… Marilda não ouviu o resto. Viu apenas como ele segurava o chapéu, esmagando a aba entre os dedos, e como o peito dele subia e descia rápido demais. O mundo ficou silencioso, exceto pelo som distante das ondas batendo nos pilares do cais. Ela já sabia. Antes mesmo que ele dissesse naufrágio, antes que ele murmurasse não encontraram o corpo, ela já estava caindo de joelhos na madeira áspera, as mãos sujas de sal e lágrimas. Hermes a segurou pelos ombros, mas não a puxou para cima. Apenas ficou ali, ajoelhado com ela, enquanto o vento levava embora o que restava das suas palavras. Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 18/04/2025
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