![]() Prato frio
A luz da sala era suave, mas a atmosfera estava carregada. Suzana estava sentada à mesa, suas mãos nervosas brincando com o guardanapo. João, por outro lado, observava o teto, como se as respostas estivessem escondidas nas rachaduras. Suzana olhando para o prato vazio: "Você se lembra daquela vez em que fomos àquele restaurante italiano? A comida era tão boa... João sem olhar para ela " Sim. A lasanha. Você disse que era como um abraço quente." Um silêncio pesado se instalou entre eles, como uma nuvem escura prestes a desabar. Suzana mordeu o lábio, tentando encontrar as palavras certas. Suzana: sussurrando "Eu... sinto falta dos abraços quentes." João por fim desviou o olhar do teto e encontrou os olhos dela. Havia uma tristeza profunda neles, mas ele apenas arqueou uma sobrancelha. João com um tom indiferente " O tempo muda tudo, não é? Até os melhores pratos perdem o sabor." Suzana respirou fundo e deixou seu olhar cair para a mesa. O guardanapo agora estava amassado nas suas mãos. Suzana quase inaudível "Às vezes, acho que estamos apenas... mastigando o mesmo pedaço de lasanha fria." Ele se levantou, a cadeira rangendo sob o peso do movimento. João andando pela sala " Não é culpa da lasanha. É só que..." fez uma pausa, olhando pela janela " nem sempre conseguimos digerir o que nos foi servido." O olhar de Suzana seguiu João, seu coração apertava ao vê-lo tão distante. E Suzana tentando manter a calma " Então você acha que deveríamos simplesmente... jogar fora tudo o que construímos?" João virando-se para ela, com os olhos frios " Não estou dizendo isso. Apenas... talvez seja hora de mudarmos o menu." Ela se levantou, como se estivesse pesando cada movimento. A música suave ao fundo parecia ecoar sua trtristeza Com uma voz trêmula " E se eu não quiser mudar? E se eu preferir a receita antiga?" Ele hesitou por um momento, os olhos suavizando antes de endurecerem novamente. Com um sorriso forçado " Mas as receitas antigas às vezes queimam. E ninguém quer comer algo queimado." O silêncio voltou a dominar a sala. Suzana olhou para a porta, como se estivesse considerando uma fuga. E quase em um sussurro " E se isso for tudo que temos agora? Somente cinzas?" João: " desviando o olhar de novo "Até as cinzas podem ser transformadas em algo novo... ou esquecidas no vento." Ela fechou os olhos por um instante, sentindo as lágrimas ameaçarem escapar. O peso das palavras não ditas pairava no ar entre eles. E abrindo os olhos com determinação " Então vamos deixar essas cinzas para trás. Precisamos decidir quem vamos ser daqui para frente." João respirou fundo e por fim sentou-se de novo à mesa, com os ombros pesados.E num tom mais suave "Talvez seja hora de falarmos sobre isso... de verdade." O som da chuva começava a ecoar lá fora, como uma sinfonia melancólica que refletia seus corações desgastados. E assim, entre silêncios e olhares perdidos, eles começaram a ver a verdade que tanto temiam enfrentar.
Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 06/04/2025
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