Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


O Enigma dos Estigmas capítulos 1 ( uma breve introdução) 

 

Era Carnaval no centro de Salvador, e o ar vibrava com música, risos e cores. Os blocos de rua se enfileiravam pelas ladeiras, enquanto a energia contagiante da festa envolvia todos. Mas em meio a essa alegria, havia um jovem chamado Manoel, conhecido por sua bondade e seu coração generoso. Ele morava em uma casa simples, aninhada entre o terreiro de sua mãe de santo e os sons do candomblé que ecoavam nas tardes ensolaradas.

Na manhã de sábado, enquanto a cidade se preparava para a folia, Manoel acordou sentindo uma estranha pressão no peito. Ao olhar para seus braços, ficou paralisado: marcas vermelhas profundas surgiam em sua pele, em seus punhos uma macha rosada transpassava a pele , formando padrões que lembravam os estigmas de Cristo. A princípio, ele pensou que era um delírio causado pela exaustão. Mas a dor era real, e logo ele percebeu que não poderia ignorar aquilo.

A notícia se espalhou rapidamente pelo bairro. As pessoas começaram a chegar à sua casa, atraídas pelo mistério e pela curiosidade. O terreiro da mãe de Manoel se encheu de murmúrios e olhares temerosos. Sua mãe, Dona Maria, uma mulher sábia e respeitada na comunidade, tentou manter a calma. Ela acreditava que os orixás estavam tentando lhe passar uma mensagem e começou a rezar fervorosamente para entender o significado daquela aparição.

“Meu filho,” ela disse com ternura, “não podemos deixar que isso se espalhe. Vamos rezar juntos para que tudo isso passe.” Mas Manoel era resignado. Ele sabia que não poderia esconder o que estava acontecendo; sentia que aquele fenômeno tinha um propósito mais profundo.

Enquanto isso, o padre Joaquim, um homem rígido e temeroso do desconhecido, ficou sabendo das notícias e decidiu intervir. Ele acreditava que as marcas eram uma afronta à sua fé e temia pela reputação da igreja. Com um grupo de fiéis devotos ao seu lado, planejou visitar Manoel com a intenção de exorcizar o que considerava uma influência demoníaca.

Mas antes mesmo que o padre chegasse à casa de Manoel, as peregrinações já haviam começado. Gente de todas as partes da cidade começou a aparecer — enfermos em busca de cura, famílias em busca de esperança, todos atraídos pela aura mística do jovem e pelos estigmas que ele carregava. A casa simples se transformou em um santuário improvisado.

Manoel recebia cada visitante com um sorriso sereno, tocando suas mãos nas feridas dos aflitos e oferecendo palavras de conforto. Ele não entendia completamente o porquê daquelas marcas em seu corpo, mas sentia que deveria usá-las para ajudar os outros. As pessoas saíam renovadas após suas visitas — algumas até diziam ter encontrado alívio para suas dores.

O padre Joaquim chegou à casa em um dia nublado, determinado a acabar com aquela “heresia”. Mas ao entrar no ambiente lotado e ver os rostos cheios de esperança e gratidão voltados para Manoel, seu coração começou a hesitar. Ali estava um jovem cuja bondade transcendia qualquer dogma religioso; ele não era uma ameaça; era um portador de luz em tempos sombrios.

Dona Maria observou tudo com um olhar atento. Sabendo do conflito interno do padre, ela se aproximou dele com firmeza. “Padre Joaquim,” disse ela calmamente, “pode ser que o Senhor esteja aqui por razões além do entendimento humano. O amor é universal; talvez seja hora de aceitarmos as diferenças entre nossas crenças.”

O padre ficou em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre suas convicções e o amor evidente naqueles olhos esperançosos ao redor de Manoel. Em vez de condenar ou afastar-se do jovem estigmatizado, ele decidiu ouvir suas histórias e aprender com sua experiência.

Com o tempo, Manoel tornou-se uma figura emblemática na comunidade — não apenas como alguém marcado pelos estigmas físicos, mas como símbolo de compaixão e resiliência. O Carnaval continuava lá fora com sua alegria frenética; mas dentro daquela casa simples num centro do candomblé havia algo ainda mais poderoso: a união entre as crenças e a celebração da humanidade em sua forma mais pura.

Os estigmas de Cristo tornaram-se um enigma não apenas para Manoel ou para aqueles ao seu redor; eles transcenderam barreiras religiosas e culturais. E assim como o Carnaval trazia cor à cidade, a bondade daquele jovem iluminou os corações das pessoas que cruzavam seu caminho — mostrando-lhes que mesmo nas marcas mais dolorosas pode haver beleza e redenção.

 

Continua amanha...

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Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 25/11/2024
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