A melhor escolha
Desde que recebi o convite para expor na galeria, não consegui parar de pensar nisso. Comentava com meus pais com muita euforia " Estou preste a mostrar a minha arte para o mundo " E eles estavam radiantes também. Era uma oportunidade única, um sonho que muitos artistas teriam. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em meu coração que me impedia de comemorar. O projeto comunitário estava me chamando, e eu não conseguia ignorar as vozes das crianças. Por que é tão difícil decidir?Ainda cheguei a comentar com minha mãe uma noite " Como poderei deixar as crianças? A galeria, viagens , tudo é outro mundo que me isola deles." E minha mãe sempre tão sábia me abraçava dizendo " Seu coração fara a melhor escolha" Olhando para as minhas telas, vejo as cores vibrantes que pintei com tanto amor. Cada pincelada carrega a essência da minha alma. Mas ao mesmo tempo, sinto o sorriso da Ana, a menininha que sempre diz que quer ser artista como eu. E se eu deixar isso para trás? Ana vinha de um lar desfeito e vivia em um abrigo e contudo sonha em ser uma artista. A galeria era famosa. Poderia abrir portas, trazer reconhecimento e oportunidades. Eu poderia finalmente ser vista como uma artista de verdade. Mas o projeto… Ah, o projeto! As tardes passadas ensinando aquelas crianças a se expressarem através da arte. Como posso abandonar isso? Se eu aceitar a galeria, vou deixar as crianças sozinhas? Elas precisam de mim! Eu prometi que estaria lá para ajudá-las a sonhar. Dois sonhos partiam meu coração me amargurando. O peso do dilema me sufocava. Eu andava em círculos pelo meu estúdio, os quadros nas paredes pareciam me observar. As cores vibrantes e as formas fluidas eram um reflexo do meu maior dilema. A cada passo, sentia uma pressão crescente em meu peito. O que é mais importante? O reconhecimento ou fazer a diferença? Será que eu posso ter os dois? E se eu escolher a galeria e depois me arrepender? E se eu ficar aqui e perder essa chance única? Eu preciso dos dois. Entao recebi uma ligação da galeria pedindo uma resposta rápida. Meu coração disparou. Eu sabia que precisava decidir, mas como poderia escolher entre os meus sonhos e as minhas responsabilidades? Eu sou uma artista, mas também sou uma mentora. Se eu for embora, quem vai ensinar aquelas crianças a expressar suas emoções? Quem vai mostrar a elas que elas também podem sonhar grande? Nesse momento de desespero, visualizei cada criança com um pincel na mão, suas risadas ecoando pelo estúdio improvisado onde trabalhávamos juntos. Lembrei-me das noites em que elas mostraram suas obras-primas com orgulho nos olhos. Faziamos exposições e os responsáveis organizavam uma festa. E Ana? Sempre sozinha em um mundo que habiva onde as cores das telas eram seu refugio e regava de felicidade seu coração. Não posso deixá-las para trás. Decidi então que não poderia abandonar o projeto comunitário. A arte é poderosa; ela transforma vidas e dá voz a quem não tem. O reconhecimento viria de outras formas.Foi esta minha decisão. Farei minha arte brilhar na comunidade! Não preciso da galeria para ser uma artista. Com essa nova determinação, respirei fundo e liguei para a galeria. — Olá! Aqui é Clara… Eu agradeço muito pela oportunidade, mas decidi seguir outro caminho. A sensação de alívio foi instantânea. Mesmo com o coração apertado pela decisão, havia um brilho renovado em minha alma. Eu escolhi meu caminho e ele é lindo. Agora era hora de voltar para as crianças e mostrar-lhes que o verdadeiro valor da arte está em como ela pode tocar vidas – inclusive a minha. Enquanto eu organizava as tintas e limpava o estúdio, ouvi a porta se abrir. Levantei a cabeça e vi uma figura familiar se aproximando. Era um velho amigo, Pedro, com um sorriso largo no rosto e uma expressão de admiração nos olhos. — Clara! Eu soube que você estava aqui. O que você tem feito? Conversei animadamente sobre o projeto e as crianças, mas algo em seu olhar me fez hesitar. Ele caminhou até um dos meus quadros pendurados na parede, uma explosão de cores que representava a alegria da infância. — Esse aqui… — disse ele, parando em frente à tela. — Ele fala comigo. Posso comprá-lo? Meu coração disparou. Um misto de surpresa e felicidade tomou conta de mim. Eu olhei para o quadro e então para ele, percebendo que, mesmo sem a galeria, minha arte ainda tinha o poder de tocar alguém. — Claro, Pedro! Eu adoraria que ele fosse seu. Enquanto ele falava sobre como aquela pintura o inspirava, percebi que as oportunidades podem surgir de onde menos se espera. E ali, naquele estúdio repleto de sonhos e risadas infantis, a vida seguia seu curso inesperado, cheia de novas possibilidades. Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 21/11/2024
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