Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


Contos e Café 

 

Rafael abriu a Cafeteria mais cedo e começou seus afazeres diários, logo seus cliente chegariam.Estava com uma ideia na cabeça. Pensou em sentar e escrever mas logo foi distraído pelo primeiro cliente que chega.

Em uma pequena cidade, havia uma charmosa cafeteria chamada "Contos e Café", onde aromas de grãos frescos se misturavam com o perfume de livros antigos. Seu dono, Rafael, era um escritor apaixonado que sonhava em escrever obras-primas enquanto servia seus clientes. Mas ultimamente, uma nuvem escura pairava sobre sua criatividade.

Rafael sentava-se em sua mesa favorita, uma antiga mesa de madeira com marcas de caneta e café. Ele olhava pela janela, observando as pessoas passarem apressadas, cada uma com sua história. Mas, ao invés de inspiração, sentia apenas um vazio. A página em branco diante dele parecia zombar de sua incapacidade de criar.

As palavras que antes fluíam como um rio agora eram meros sussurros em sua mente. Ele tentava forçar a inspiração, mas as palavras escapavam como areia entre os dedos. O café que preparava com tanto carinho não conseguia aquecer seu coração inquieto.

Um dia, enquanto limpava a máquina de café, Rafael encontrou um velho caderno escondido em uma prateleira. Folheou as páginas amareladas e leu os escritos em momentos de pura paixão. Cada palavra o transportou para um tempo em que a criatividade pulsava dentro dele. A nostalgia o envolveu como um abraço quente.

Mas logo a dúvida retornou: “Por que não consigo escrever assim novamente?” Ele se sentia preso entre o desejo de criar e o medo do fracasso. A pressão para ser um escritor que todos admiravam tornava-se insuportável.

Certa manhã, ao abrir a cafeteria, Rafael decidiu mudar sua abordagem. Em vez de esperar pela inspiração perfeita, decidiu observar seus clientes: os sorrisos trocados entre amigos, as conversas animadas sobre sonhos e planos. Ele começou a anotar pequenas histórias que ouvia enquanto servia café.

Conforme os dias passavam, algo começou a acontecer. Através das histórias dos outros, Rafael encontrou novas faíscas de inspiração. Cada cliente se tornou um personagem em sua mente; cada xícara de café servida trazia consigo uma nova ideia.

Em uma noite tranquila, enquanto as estrelas brilhavam no céu, Rafael sentou-se à mesa com seu caderno aberto. As palavras começaram a fluir novamente, não como antes, mas com uma autenticidade renovada. Ele percebeu que a verdadeira criação   não precisava ser perfeita; ela poderia ser crua e realista.

O conflito interno ainda existia — a dúvida nunca desapareceria por completo — mas agora ele entendia que a inspiração poderia vir dos lugares mais inesperados: da vida cotidiana e das conexões 

Em uma manhã ensolarada. Rafael está atrás do balcão, preparando um café, quando um senhor de cabelos brancos entra. Ele se chama Seu Joaquim, um cliente habitual.

" Bom dia, Seu Joaquim! O que vai querer hoje?" perguntou sorridente e seu Joaquim, que parecia animado :" Bom dia, Rafael! Vou de sempre, um café preto bem forte. Sabe como gosto!Rafael  preparando o café "  Com certeza! O café é como a vida: às vezes amargo, mas sempre necessário." Seu Joaquim   rindo " Você e suas filosofias, meu amigo! Mas você tem razão. Às vezes, a gente precisa do amargo para valorizar o doce." E Rafael   suspirando"  Eu diria que estou precisando de uma dose extra de inspiração hoje. As palavras simplesmente não estão vindo." Ele fazia muitas anotações mas nada de forma encadeada. "  Ah, isso já aconteceu comigo muitas vezes. Sabe, Rafael, eu costumava escrever contos quando era mais jovem. Mas chegou um dia em que as palavras pararam de fluir." Rafael, curioso, quis saber "  E como você lidou com isso?" Seu Joaquim já com sua xícara de café começou a falar "  Eu aprendi a observar a vida ao meu redor. Um dia, vi uma criança correndo atrás de uma pipa e percebi que a alegria dela era mais inspiradora do que qualquer texto que eu tivesse escrito. Depois disso, comecei a anotar pequenas coisas do meu dia a dia." 

E Rafael   pensativo"  Então você quer dizer que a inspiração pode vir das coisas simples?" Seu Joaquim levando o café quente aos lábios :"  Exatamente! Às vezes, estamos tão focados em criar algo grandioso que esquecemos de olhar para o que está bem diante de nós. Cada xícara de café servida tem uma história; cada cliente traz algo único." Isto concidia com o que Rafael andava fazendo e sorrindo "  Você tem razão, Seu Joaquim. Às vezes me perco na busca pela perfeição e esqueço de aproveitar o momento." 

O Seu Joaquim levantando-se para sair " Pois é! E lembre-se: não precisa ser perfeito. A beleza está nas imperfeições e nas pequenas nuances da vida." Rafael parecia animado "  Obrigado, Seu Joaquim! Sua sabedoria sempre me faz refletir. Vou tentar olhar ao meu redor com novos olhos." 

Antes de se vira ele ainda disse "  Isso mesmo! E quem sabe um dia você não escreve uma história  sobre este café e as histórias que ele guarda?" 

E assim, o senhor deixou Rafael com uma nova perspectiva sobre a inspiração e a beleza das pequenas coisas da vida. 

A ideia ressoava em Rafael. Ele começa a perceber as pequenas interações ao seu redor: o casal rindo em uma mesa, a mulher sozinha olhando pela janela, a criança pedindo um bolo ao pai. Cada cena é uma história esperando para ser contada. 

A ideia faz Rafael sentir uma onda de inspiração. Ele pega um pedaço de papel e começa a anotar algumas ideias.

" Vou fazer isso! Vou escrever sobre "As Histórias da Cafeteria". Cada xícara de café servida é uma nova narrativa!" disse para si mesmo.

Rafael estava sentado em sua mesa favorita na cafeteria, observando o movimento ao seu redor. Enquanto tomava um gole do seu café, ele começa a refletir sobre a vida e as pequenas coisas que muitas vezes passam despercebidas.

Enquanto o vapor do café sobe de forma lenta, Rafael se perde em pensamentos. A xícara quente entre suas mãos parece conter não apenas a bebida, mas também memórias e sonhos.

Ele se lembra de momentos simples: risadas compartilhadas com amigos, conversas profundas à luz da lua e os dias chuvosos que o levaram a buscar refúgio em uma cafeteria. Cada um desses momentos é como uma gota de café que se mistura ao leite – juntos, formam algo mais rico e complexo.

Rafael observa um grupo de amigos rindo alto, suas vozes misturando-se à música suave tocando ao fundo. Ele percebe como a felicidade deles é contagiante. Isso o faz pensar sobre a importância das conexões humanas.

“Cada amizade é como uma receita,” ele anota em seu caderno.  “É preciso dosar paciência, compreensão e muito amor para criar algo duradouro.” termina.

Então, seus olhos se fixam em uma mulher idosa lendo um livro sozinha. Ela vira as páginas com cuidado e, por um momento, Rafael imagina a história que ela está absorvendo. “Histórias são pontes entre almas,”.ele escreve. “Elas nos conectam, mesmo quando estamos sozinhos.”

A atmosfera da cafeteria inspira Rafael a explorar sua própria jornada criativa. Ele começa a escrever sobre os desafios que enfrentou e as vitórias que conquistou. A cada palavra, ele sente um peso se dissipar – como se estivesse liberando os sentimentos guardados dentro dele.“A arte de viver é uma jornada cheia de altos e baixos,” ele reflete. “Mas cada experiência é um ingrediente essencial para o nosso crescimento.”

Com isso, Rafael percebe que a verdadeira inspiração vem do cotidiano – das interações simples e dos momentos de reflexão. Ele sorri ao ver que sua xícara já está vazia, mas seu caderno está cheio de novas ideias.

Rafael observa e sente tudo isso,  

Captura em palavras o que é preciso.  

A beleza do simples, do efêmero instante,  

Transforma a rotina em algo tão especial. 

A atmosfera da cafeteria estava preenchida com risos e conversas animadas, mas uma sensação estranha começou a se espalhar pelo ar. Rafael, absorto em seus pensamentos e anotações, levantou os olhos e viu o Sr. Joaquim, o simpático idoso que sempre ocupava a mesma mesa no canto, com seu chapéu de feltro e um sorriso caloroso. Era um homem que trazia vida ao ambiente, sempre compartilhando histórias e risadas com os frequentadores.

Naquele dia, no entanto, algo parecia diferente. Joaquim estava pálido e suas mãos tremiam levemente enquanto segurava sua xícara de café. Rafael franziu a testa, preocupado. Ele decidiu se levantar e ir até o idoso para perguntar se estava tudo bem.

Quando Rafael se aproximou, o barulho da cafeteria parecia desvanecer. Ele ouviu Joaquim murmurar algo sobre "tempo" e "memórias", enquanto olhava pela janela com um olhar distante. De repente, o homem deixou a xícara escorregar de suas mãos, e o café derramou-se pelo chão como um rio escuro.

"Joaquim!" Rafael exclamou, apressando-se para ajudar. Mas antes que pudesse alcançá-lo, o Sr. Joaquim caiu lentamente para o lado, seu corpo inerte encostando-se na mesa. O murmúrio das pessoas ao redor transformou-se em gritos de choque e preocupação.

Rafael sentiu seu coração acelerar enquanto se agachava ao lado do homem que tinha sido uma figura constante em sua vida cotidiana. Ele tocou a mão de Joaquim, fria e sem vida. O tempo parecia ter parado; os risos foram substituídos por lágrimas e sussurros de incredulidade.

"Não... não pode ser," pensou Rafael, enquanto a realidade do momento começava a se instalar. Ele olhou ao redor e viu rostos conhecidos cheios de tristeza – cada um deles tocado pelos pequenos momentos que haviam compartilhado com o Sr. Joaquim.

Uma enfermeira que estava na cafeteria correu para ajudá-lo, mas já era tarde demais. O clamor da sirene da ambulância ecoou lá fora como um lamento coletivo. Rafael sentiu um nó na garganta; ele sabia que havia perdido não apenas um amigo, mas uma parte da alma daquela comunidade.

Os olhos de Joaquim estavam fechados para sempre, mas suas histórias e risadas pareciam ainda ecoar nas paredes da cafeteria. Rafael percebeu que aquele lugar nunca mais seria o mesmo sem ele.

Com lágrimas nos olhos, ele pegou o caderno que estava ao seu lado e começou a escrever furiosamente sobre aquele momento – uma ode à vida do Sr. Joaquim, ao impacto que teve em tantos corações ali presentes. Ele sabia que precisava capturar a essência daquele homem que sempre trazia luz aos dias mais cinzentos.

E assim, no meio da dor e da perda, Rafael encontrou uma nova determinação: honrar a memória do amigo através das palavras que ele tanto amava compartilhar.

Antes de testemunhar a retirada do corpo do amigo para sempre da Cafeteria Rafael escreveu: " O último café de Joaquim "  .

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 18/11/2024
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