Era uma manhã tranquila quando Júnior decidiu que era hora de fazer uma revisão no seu carro, um hatchback branco que o acompanhava em muitas aventuras. Ele sempre foi cuidadoso com seu veículo, mas nos últimos dias, sentia uma leve vibração estranha ao dirigir. “Deve ser só um pequeno ajuste”, pensou, tentando ignorar a sensação incômoda. Ele levou o carro a uma oficina de confiança, onde o mecânico, um homem robusto chamado Carlos, começou a inspeção. Enquanto esperava, Júnior observou o movimento da oficina: outros carros entravam e saíam, cada um com suas próprias histórias e problemas. Depois de um tempo, Carlos o chamou para discutir os resultados da revisão. “Olha, Júnior”, começou Carlos, “fizemos a troca de óleo e checamos os freios. Estão em boas condições. Mas notei que a suspensão está um pouco desgastada e os pneus estão com a calibragem baixa. Seria bom dar uma olhada nisso antes de pegar a estrada.” Júnior assentiu, mas estava tão ansioso para viajar no fim de semana que decidiu ignorar as recomendações. “Ah, não se preocupe! Vou viajar só um pouquinho. Deve dar tudo certo”, respondeu ele com um sorriso confiante. Carlos olhou para ele com uma expressão preocupada, mas não insistiu mais. Nos dias que se seguiram, Júnior preparou sua mala e fez os últimos ajustes na viagem. Ele estava empolgado para visitar um amigo em outra cidade e mal podia esperar para pegar a estrada. No entanto, ao entrar no carro e dar partida, ele notou que o motor estava fazendo um barulho diferente — um som metálico intermitente que o deixou inquieto. “Deve ser só coisa da minha cabeça”, pensou enquanto ajustava o som do rádio para abafar suas preocupações. A viagem começou bem, com a música alta e a estrada aberta à sua frente. Mas logo na primeira hora de viagem, ele sentiu novamente a vibração estranha no volante e ouviu o barulho metálico cada vez mais alto. “Talvez eu tenha exagerado na revisão”, murmurou para si mesmo enquanto tentava se concentrar na estrada. À medida que avançava, as nuvens começaram a se acumular no céu e uma leve chuva começou a cair. Júnior ligou os limpadores de para-brisa e continuou dirigindo, mas as condições da pista estavam se deteriorando rapidamente. A cada curva feita, ele sentia que o carro estava mais difícil de controlar. Os pneus pareciam escorregar levemente sobre a superfície molhada. Em um momento de distração ao olhar para o celular — uma mensagem de seu amigo perguntando quando chegaria — Júnior perdeu a atenção na estrada por apenas alguns segundos. Quando olhou novamente, viu uma curva fechada à sua frente e não teve tempo suficiente para desacelerar. O carro deslizou descontrolado enquanto ele tentava virar o volante. O coração disparado e a adrenalina tomaram conta dele em uma fração de segundo. O impacto foi brutal: o carro colidiu contra a barreira de proteção da estrada antes de capotar várias vezes. Quando tudo ficou em silêncio, Júnior se viu preso entre as ferragens retorcidas do veículo. O barulho da chuva batendo contra o teto deformado era quase ensurdecedor. Ele tentou se mover, mas a dor intensa em seu corpo era insuportável. Num último esforço para entender o que havia acontecido, lembrou-se das palavras de Carlos sobre os pneus e da vibração estranha que havia ignorado. A realidade veio como uma onda esmagadora: ele havia colocado sua vida em risco por causa da pressa e do desprezo pelos sinais claros de alerta que seu carro havia dado durante toda a viagem. A chuva continuava caindo enquanto Júnior lutava contra a escuridão que começava a tomar conta dele. Naquela estrada solitária, sem ninguém por perto para ajudar ou ouvir seus gritos silenciosos por socorro, Júnior percebeu que sua escolha apressada custou-lhe mais do que poderia imaginar — foi uma lição amarga sobre ouvir os sinais e valorizar sua segurança acima da pressa ou da empolgação momentânea. E assim, sob aquela chuva incessante e fria, seu último pensamento foi sobre as pequenas decisões diárias que podem mudar tudo em um instante — lições que agora ecoariam eternamente nas memórias dos que ficaram para trás. Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 10/11/2024
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