Ecos do medo
Lara apanhou o casaco antes de sair, choveu a noite toda mas um tímido sol brilhava lá fora, ainda ouviu a mãe dizer :" Coloca as galochas, o terreno deve estar todo molhado " . Ela olhou para elas mas preferiu sair de tênis mesmo. O dia todo presa dentro de casa, precisava dar uma volta pelo bosque. Moravam, ela e a mãe, num antigo casarão numa fazenda que dava para um bosque. Diziam que toda aquela terra pertencia a se pai. Um homem austero que falecera bem jovem. O dia começava a se despedir, tingindo o céu de um laranja profundo que se misturava ao verde das folhas. Lara sempre encontrou consolo naquele bosque, um refúgio onde poderia escapar da agitação da pequena cidade, perto da fazenda .Brincou muito, quando criança naquele lugar. Conhecia cada parte da fazenda e do bosque. Mas hoje, uma sensação estranha a acompanhava, como se as árvores sussurrassem segredos obscuros. Enquanto caminhava por entre os troncos altos, Lara percebeu que o ar estava mais denso, quase opressivo. O farfalhar das folhas parecia mais intenso e os pássaros, sempre tão alegres, haviam silenciados. Um frio percorreu sua espinha enquanto ela tentava ignorar a inquietação que crescia dentro dela. Então ouviu – um estalo distante. Um galho quebrando sob o peso de algo ou alguém. O coração dela disparou. Ela virou-se , mas não viu nada além de sombras feitas pelo sol entre as árvores que dançavam ao seu redor. Acelerou o passo, mas a sensação de estar sendo observada se intensificou. A cada passo que dava, o som dos seus próprios pés parecia ser acompanhado por outro ritmo, mais sutil, mas inegável que era presente. Lara forçou-se a olhar por cima do ombro novamente e dessa vez sentiu um arrepio ao perceber uma figura escura entre as árvores – apenas uma silhueta obscura. O pânico tomou conta dela. Com a adrenalina pulsando em suas veias, começou a correr em direção à clareira que conhecia bem; um lugar onde poderia se esconder. Mas à medida que avançava, os passos atrás dela se tornavam mais audíveis e próximos. Tropeçou algumas vezes na umidade das pedras, deveria ter calçado as galochas. Ela alcançou a clareira e se escondeu atrás de um tronco largo, ofegante e com o coração quase saindo pela boca. A luz do sol poente filtrava-se timidamente através das folhas, criando um jogo de sombras que tornava tudo ainda mais aterrador. Lara prendeu a respiração enquanto observava atenta a borda da clareira. O som dos passos parou. O silêncio era ensurdecedor. Ela sentia sua própria respiração como um grito no vazio. Pensou em sua mãe sozinha em casa e se quem a perseguia agora viera de lá, como estaria sua mãe? De repente, uma sombra apareceu na entrada da clareira – era ele. O perseguidor estava ali, parado e imóvel como uma estátua, escaneando o local com olhos penetrantes. Lara prendeu ainda mais a respiração enquanto tentava não fazer nenhum movimento brusco. Ele parecia saber que ela estava ali; havia um conhecimento sombrio em seu olhar. Lara não sabia quanto tempo ficou ali escondida, mas cada segundo parecia uma eternidade. Nao conseguia lembrar da imagem que via tão proximo de si. Era um homem com um casaco escuro e botas envelhecidas. Seu rosto nao era conhecido. Po fim , quando ele começou a se afastar de forma lenta, ela aproveitou a oportunidade e decidiu correr na direção oposta. As árvores pareciam se fechar ao seu redor enquanto ela corria em desespero para fora da clareira e de volta ao caminho principal. Os passos atrás dela recomeçaram – agora com mais urgência. Lara sentia seu corpo pesado e cansado, mas não podia parar. A adrenalina lhe dava forças enquanto ela buscava qualquer sinal de ajuda ou abrigo. Em meio à corrida frenética, avistou uma pequena cabana antiga à distância.Conhecia aquele lugar, era a velha cabana que pertencia a um velho empregado da fazenda que já tinha falecido a anos . Com todas as suas forças, correu em direção a ela, sabendo que precisava encontrar segurança antes que fosse tarde demais. Ao alcançar a porta da cabana, empurrou-a com força e entrou rápido, fechando-a atrás de si com um estrondo ressoante. O silêncio tomou conta do interior escuro enquanto ela tentava ouvir os passos do perseguidor do lado de fora, com a ajuda da fraca luz do sol que ainda persistia percebeu que a cabana estava toda limpa e arrumada. Alguém estava habitando nela. Ela encostou-se à porta trancando-a e respirou fundo para tentar acalmar seu coração acelerado. Mas o eco dos passos parou do lado de fora; ele estava ali agora, esperando. Sua mente estava povoada de questões que não a deixava pensar em uma fuga, na verdade, ao entrar na cabana sentenciou-se ao seu próprio cárcere. Seria o homem que agora habitava aquela velha moradia ? O medo tomou conta de Lara, fazendo-a estremecer, sentiu que chorava baixinho, quando percebeu que aquele bosque já não era mais um refúgio seguro – era uma armadilha silenciosa onde sua vida estava por um fio, e foi quando percebeu que a única janela da cabana estava aberta.
Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 06/11/2024
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