Sombras de um Coração Partido
Entrei afobado em casa direto para o banheiro, precisava lavar as mãos sujas de sangue. Meu peito era um tambor que ecoava forte. Tirei a camisa suja de sangue e coloquei num saco plástico. Iria para o lixo. Percebi o quanto custava sair o sangue do meu irmão das minhas mãos. Sempre tive um relacionamento complicado com ele, Fernando. Enquanto eu me dedicava aos estudos e sonhava em ser médico, Fernando se deixava levar por más companhias e noites sem fim. A cidade, com suas promessas de aventura, atraía ele como um ímã. Eu tentei alertá-lo sobre as consequências de suas escolhas, mas ele nunca me ouviu. Naquela noite fatídica, a chuva caía pesada, criando um manto de mistério sobre as ruas desertas. Quando ouvi os gritos que quebraram o silêncio, meu coração disparou. Corri para o beco atrás da nossa casa e encontrei Fernando caído no chão, uma poça de sangue se espalhando ao seu redor. Tentei reanimá-lo, mas era tarde demais. Ele estava morto. As semanas seguintes foram um turbilhão de dor e confusão. A polícia começou a investigar as últimas horas de vida dele. Muitos suspeitavam das más companhias que ele mantinha — um grupo conhecido por problemas com a lei e envolvimentos em atividades perigosas. Mas havia algo mais que me atormentava: alguns vizinhos relataram ter nos visto discutindo na noite anterior ao crime. A dúvida começou a corroer minha mente. Eu não podia negar que estava frustrado com as escolhas de Fernando e que nossa discussão havia sido intensa. “E se eu tivesse feito algo diferente?” pensei inúmeras vezes. As vozes da cidade sussurravam acusações silenciosas, e os olhares desconfiados me seguiam onde quer que eu fosse. Em uma noite em que a lua estava cheia e iluminava o céu nublado, decidi visitar o beco onde tudo aconteceu. Queria entender melhor o que poderia ter levado meu irmão àquele destino trágico. Enquanto caminhava pelo local, minha mente estava em conflito: lembranças de risadas compartilhadas misturavam-se com a raiva e frustração acumuladas ao longo dos anos. Foi então que minha consciência começou a falar comigo, como uma sombra persistente na escuridão da minha mente. “Você ainda procura respostas?” ela sussurrou. “Quem mais poderia ser culpado se não eu?” perguntei à minha própria voz interior, sentindo o peso da culpa me sufocar. “Você tem certeza de que foi apenas má companhia? Ou talvez você mesmo tenha algo a esconder?” As perguntas ficaram pairando no ar como um mistério não resolvido. A verdade é que eu não sabia o que pensar ou sentir. O passado parecia uma teia intrincada de escolhas erradas e arrependimentos silenciosos. Fiquei ali parado, imerso em pensamentos confusos e angustiantes. O que realmente aconteceu naquela noite? Quem estava por trás da morte de Fernando? E se eu mesmo estivesse mais envolvido do que queria admitir? As perguntas continuaram sem resposta enquanto olhava para a lua cheia. No final daquela noite, percebi que as sombras do passado nunca deixariam meu coração em paz.
Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 01/10/2024
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