Caminhos da violência
A rua pulsava com a agitação habitual, carros passando apressados, o som dos passos apressados ecoando nas calçadas. Mas, naquele instante, um grito cortou o ar. O homem caiu. A cena se desenrolava como um pesadelo: ele se arrastava, a mão segurando a ferida no peito, os olhos arregalados em busca de ajuda. Cláudia ficou paralisada, os olhos fixos no corpo ja quase sem vida que se contorcia no chão. As vozes ao seu redor se tornaram um zumbido distante; seu coração acelerou e sentiu a respiração faltar. O rosto do homem era familiar, mas sua mente se recusava a conectar os pontos. D. Leia estava próxima, seu rosto pálido como o de um fantasma. As mãos trêmulas seguravam a bolsa contra o peito, enquanto ela olhava para o homem com uma mistura de horror e desespero. "Alguém chame uma ambulância!" Ela gritou, mas sua voz soava distante, quase como um eco. Raul se aproximou, sua expressão determinada. Ele se agachou ao lado do homem e tentou estancar o fluxo de sangue que manchava a calçada. As mãos dele tremiam enquanto pressionava um pano contra a ferida, mas a pressão não parecia suficiente. O olhar de Raul era intenso, mas Cláudia não conseguia desviar os olhos do homem caído. O tumulto aumentava à medida que mais pessoas se juntavam ao redor. Comentários nervosos surgiam: "O que aconteceu?", "Ele vai sobreviver?" Cláudia sentia a garganta seca ; as palavras pareciam presas dentro dela, incapazes de sair. E então veio a chuva. Primeiro algumas gotas tímidas, depois uma torrente que começou a descer do céu cinzento. A água misturou-se ao sangue no chão, formando um rio vermelho que escorria entre os pés dos espectadores horrorizados. Cláudia viu as gotas caírem na pele do homem e em sua mente ecoou uma pergunta: "O que eu estou fazendo aqui?" A rua, antes vibrante, agora era um mosaico de expressões. Cláudia estava paralisada, mas ao seu redor, rostos se transformavam. Uma mulher com um cachecol vermelho cobria a boca com as mãos, olhos arregalados. Um homem de terno escuro, que parecia apressado, agora se detinha, a gravata balançando levemente enquanto ele observava, como se o tempo tivesse parado para ele também. O cheiro da chuva misturava-se ao aroma forte do asfalto molhado e da fumaça dos carros parados. As gotas dançavam na calçada e se acumulavam nas frestas, formando pequenas poças que refletiam os rostos angustiados. Raul, de joelhos, tinha a camisa branca ensopada e manchada; suas mãos estavam vermelhas e trêmulas enquanto pressionava o pano contra a ferida do homem. A cada movimento, gotas de água escorriam de seus cabelos e caíam sobre o corpo inerte. D. Leia mordeu o lábio inferior, um gesto quase involuntário enquanto seus olhos buscavam por alguém que pudesse fazer algo. A bolsa em seu colo balançava levemente com o tremor das suas mãos; ela tentava se manter firme, mas a fragilidade estava estampada em seu rosto. Os murmúrios da multidão cresciam como ondas do mar: “Ele não vai sobreviver”, “Alguém precisa fazer algo!” Um jovem no fundo começou a gravar com o celular, a tela iluminando seu rosto preocupado enquanto outros olhavam com uma mistura de curiosidade e horror. E então a chuva se intensificou. As gotas grandes batiam no chão com força, fazendo pequenos respingos que pareciam gritar pela vida que se esvaía. O sangue formava redemoinhos vermelhos nas poças que se formavam, tornando-se parte daquele quadro surreal. Cláudia sentiu uma gota escorregar pelo seu rosto; não sabia se era chuva ou lágrima. O tumulto ao redor dela era uma sinfonia de desespero e impotência, mas tudo que conseguia fazer era ficar ali, embalada pela cena trágica e pela água que caía incessantemente. O céu parecia chorar junto com aqueles estranhos que se tornaram parte de sua história naquele dia fatídico. A chuva lavava tudo ao redor, mas não conseguia limpar a cena diante dela. O clímax da angústia se instalou em seu peito; ela queria gritar ou correr, mas algo a mantinha ancorada no lugar. Raul ainda tentava ajudar, seus esforços cada vez mais desesperados enquanto o homem perdia força. E nesse momento de caos e dor, Cláudia percebeu: a vida é frágil como aquelas gotas que ccaíamde forma incessante. Uma sensação de impotência invadiu seu ser; tudo o que podia fazer era observar enquanto o sangue e a chuva se misturavam sob os olhares perplexos dos espectadores. A cena estava gravada em sua mente para sempre: um homem caindo sob os olhos de estranhos, enquanto o mundo continuava girando indiferente à tragédia que acabara de acontecer. Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 20/09/2024
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