Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


 

     D Edna foi conferir o frango no forno que ainda não estava no ponto e retornou a pia para lavar a louça e deixar tudo organizado .

      Era um típico domingo ensolarado, e a casa de D. Edna exibia um ar de festa, apesar do seu jeito peculiar de reunir a família, que já não era tão grande como antes pois muitos já tinham seguido seus caminhos e não compareciam com frequência. .

     As toalhas de mesa eram floridas, mas um pouco desbotadas, e o cheiro da comida se espalhava pelo ar, prometendo um banquete que ninguém sabia se seria realmente delicioso ou apenas uma aventura gastronômica.

     Os familiares começaram a chegar pontualmente às 13h, como se houvesse uma competição não oficial para ver quem chegava primeiro. A primeira a entrar foi a prima Carla, que logo disparou: "Prima, espero que você não tenha feito aquele frango com molho de laranja de novo! Da última vez, eu quase pedi socorro!"

     "Ah, mas querida," respondeu D. Edna com um meio sorriso, "uma receita tão inovadora não pode ser ignorada! E se você não gostou, pode sempre optar pela salada — que também é uma obra-prima da culinária moderna."

     Carla, neste momento,  recebeu uma mensagem no celular que a deixou visivelmente preocupada. Era um aviso de que seu chefe a chamava para uma reunião de emergência na segunda-feira, e ela estava prestes a ser promovida, mas precisava apresentar um projeto que não estava completamente pronto. 

     Enquanto todos estavam imersos nas piadas e nas trapalhadas culinárias de D. Edna, Carla se via dividida entre aproveitar aquele momento em família e a pressão do trabalho.   

    A tensão começou a crescer quando ela não conseguia se concentrar nas conversas e risadas ao redor da mesa.

D. Edna logo percebeu que algo estava errado com sua prima e decidiu intervir. "Carla, querida, você está tão distante! O que está acontecendo? Você não vai me dizer que está pensando no trabalho enquanto estamos aqui?" 

      Carla, entre sorrisos forçados, respondeu: "Ah, prima, é só um pequeno problema no trabalho... nada demais. Mas a preocupação era evidente em seu olhar.

O tio Jorge, sempre o provocador, não deixou passar: "Se você está pensando em trabalho durante o almoço da família, você realmente precisa rever suas prioridades! Aqui temos um frango duvidoso e um bolo exótico — isso é muito mais importante!"

     D. Edna ficou preocupada e disse: "Ela precisa entender que esses momentos são raros e preciosos! O trabalho pode esperar."

      O que Carla vivia era um reflexo das tensões modernas — entre as obrigações profissionais e os laços familiares.

     Enfim , após muita reflexão e algumas mensagens trocadas com o chefe, Carla decidiu voltar à mesa e aproveitar o momento com sua família, percebendo que as experiências compartilhadas eram tão valiosas quanto qualquer promoção no trabalho. Essa decisão ajudou a aliviar a tensão e trouxe um novo ar para o almoço — mostrando que, às vezes, é preciso escolher o amor e as risadas em vez das pressões externas.

      Os risos ecoaram pela sala enquanto o tio Jorge chegava com um sorriso maroto. "Espero que você tenha feito bastante daquela farofa especial. A última vez que estive aqui, ela desapareceu mais rápido do que o meu otimismo em relação ao seu frango."

     D. Edna, sem perder o ritmo, retrucou: "Não se preocupe! Fiz uma quantidade extra. Afinal, nunca se sabe quando alguém pode precisar de um pouco mais de 'sabor' na vida."

     Enquanto todos se acomodavam à mesa, a conversa fluía entre piadas sobre as receitas duvidosas e as tentativas frustradas da D. Edna em seguir tendências culinárias. O avô Manuel, sempre o crítico mais rigoroso, levantou seu copo e disse: "Um brinde à coragem da  Edna em experimentar! Que suas receitas continuem tão surpreendentes quanto sua capacidade de nos fazer rir!"

      O almoço prosseguiu com pratos sendo servidos e histórias sendo contadas — algumas verdadeiras e outras tão exageradas que poderiam ser roteiros de comédias. No entanto, havia uma ironia deliciosa em cada garfada; todos sabiam que as receitas poderiam falhar e os temperos poderiam ser estranhos, mas era essa autenticidade que tornava aqueles almoços memoráveis.

     D. Edna decidiu surpreender a todos com sua nova invenção: um "bolo de cenoura" que ela havia adaptado com uma receita exótica que prometia ser revolucionária. Todos estavam ansiosos, mas também um tanto apreensivos, pois já conheciam as surpresas que surgiam de suas experiências na cozinha.

Quando D. Edna trouxe o bolo à mesa, coberto com uma camada brilhante de glacê que parecia mais uma obra de arte do que um doce, a sala ficou em silêncio por um breve momento. O tio Jorge olhou para o bolo como se estivesse avaliando um novo filme, e a prima Carla fez uma careta, lembrando-se do frango.

"Vamos lá, família! O que seria de nós sem uma dose de coragem?" disse D. Edna, tentando animar a todos.

Com uma faca trêmula, ela cortou o primeiro pedaço e serviu a cada um dos presentes. O momento estava repleto de expectativa e nervosismo. Assim que todos tomaram a primeiro garfada, a sala ficou em silêncio novamente — mas desta vez, era um silêncio carregado de tensão.

     O avô Manuel foi o primeiro a quebrar a expectativa. Ele mastigou lentamente e, com uma expressão que misturava surpresa e confusão, soltou: "Bem... é... interessante." A palavra "interessante" ecoou como um sinal de alerta para os outros.

     Então, a prima Carla não conseguiu se conter e exclamou: "Prima, isso tem gosto de... caramelo estragado com um toque de... ervas?!" O riso explodiu pela sala enquanto todos começaram a experimentar o bolo mais de perto.

      D. Edna, entre risos e protestos defensivos, insistiu: "É uma fusão! Uma nova tendência da culinária! Vocês só não sabem apreciar!"

A tensão se transformou em gargalhadas incontroláveis quando o tio Jorge começou a dramatizar sua experiência com o bolo como se fosse uma cena de teatro: "E aqui estou eu, enfrentando este desafio épico! Uma batalha contra os ssabores exóticos.  D. Edna percebeu que, apesar do fiasco culinário, havia criado algo ainda mais valioso: momentos inesquecíveis e risadas ,

     O verdadeiro triunfo não estava no sabor do bolo, mas na união da família diante das ironias da vida — porque no final das contas, cada refeição compartilhada era uma história à parte.

       No final do dia, enquanto todos se espremiam na sala para sair, D. Edna lançou um olhar satisfeito para sua família reunida e comentou: "Viram? Não é apenas um almoço; é uma experiência cultural! Agora todos podem ir para casa e contar como sobreviveram a mais uma aventura na cozinha da vovó!"

     Cada um levando consigo não apenas as lembranças das iguarias duvidosas de D. Edna, mas também o calor familiar que só um domingo à mesa pode proporcionar — ironias à parte.

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 07/09/2024
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