Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


 

 

Eu sempre acreditei que as flores tinham o poder de curar. No meu pequeno jardim, cada pétala e cada folha eram como fragmentos da minha alma, cultivados com amor e dedicação. As rosas eram as minhas favoritas, com suas cores vibrantes e perfumes suaves. Eu passava horas ali, mergulhada na terra e nas lembranças, mas a solidão sempre me acompanhava como uma sombra.

Meu marido costumava me ajudar a cuidar do jardim. Ele tinha um jeito especial de plantar as flores, como se cada uma delas fosse uma parte de nós. Lembro-me das risadas que compartilhávamos enquanto regávamos as plantas ou discutíamos sobre qual flor escolher para aquele espaço vazio. Agora, o silêncio era ensurdecedor.

A saudade dele era um peso constante em meu coração. A cada rosa que desabrochava, eu via não apenas a beleza, mas também a ausência dele. O que antes era um motivo de alegria agora se tornava uma lembrança dolorosa. Eu falava com as flores, contando-lhes histórias sobre ele, esperando que, de algum modo, elas pudessem trazê-lo de volta.

Certa manhã, enquanto cuidava das minhas amadas rosas, algo me distraiu. Uma brisa suave acariciou meu rosto e me fez sentir como se ele estivesse ali ao meu lado novamente. Em um momento de distração, alcancei uma rosa para admirá-la mais de perto. Foi então que o espinho traiçoeiro se cravou na minha pele.

A dor foi instantânea e aguda, mas o que realmente me atingiu foi a sensação de que toda a minha vida havia desmoronado naquele instante. O sangue escorreu lentamente pelo meu dedo, e eu fiquei paralisada. A dor física era insignificante comparada à dor emocional que eu carregava dentro de mim.

Olhei para o jardim ao meu redor e percebi que as flores estavam mais vivas do que nunca. Elas dançavam ao vento como se estivessem celebrando algo que eu não conseguia entender. Meu coração estava pesado com saudades e arrependimentos. Eu queria gritar por ele, chamar seu nome, mas tudo que consegui foi um sussurro perdido na brisa.

Enquanto observava o meu dedo sangrar sobre a terra fértil, percebi que as flores também precisavam dos espinhos para crescer. Eles eram parte do processo; eram a dor necessária para revelar a beleza. E eu? Eu estava presa em um ciclo interminável de saudades e lembranças.

O sol começou a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e rosados. Eu sabia que precisava encontrar uma maneira de viver com essa dor — não como um fardo, mas como parte da minha história. Era hora de deixar as lembranças fluírem como as raízes das flores em busca de luz.

E assim fiquei ali, no meu jardim, cercada por rosas e espinhos, perdida em pensamentos sobre o amor que havia partido e a vida que ainda pulsava ao meu redor.

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 31/08/2024
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