Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


 

Desafio 12 Nas asas da solidão 

 

Helena serviu-se de chá e comia biscoitos que derretia na boca, no silêncio da casa solitária em que vivia. Ajeitou a cortina próxima à mesa para deixar o sol da manhã entrar. 

Ela vivia em uma pequena cidade  esquecida pelo tempo.  Uma mulher que era uma folha solta ao vento. Todos os dias, ela caminhava pelas ruas silenciosas, observando como a vida seguia ao seu redor, enquanto  permanecia invisível,  uma sombra que não se atrevia a tocar a luz.

A solidão era sua companheira constante. Em sua casa, as paredes pareciam sussurrar segredos de um passado que não voltaria. O eco de risadas e conversas se transformara em um silêncio ensurdecedor,  um livro fechado que já não era lido. Helena olhava pela janela e via a vida acontecendo lá fora, mas ela se sentia como uma borboleta presa em um casulo, incapaz de voar.

Naquela manhã, enquanto caminhava pelo parque, algo a fez parar. Uma borboleta azul dançava entre as flores, suas asas vibrando com cores vibrantes. Helena ficou hipnotizada pela beleza efêmera daquele ser. A borboleta parecia representar tudo o que ela desejava: liberdade e leveza.

“Como você pode ser tão feliz?” murmurou Helena para si mesma. “Você voa livremente enquanto eu estou presa na minha própria tristeza.” A borboleta pousou delicadamente em uma flor próxima, como se estivesse ouvindo seu lamento silencioso.

“Por que é tão difícil me libertar? A solidão é um abrigo seguro, mas também é uma cela. Sinto falta da conexão, mas tenho medo de me abrir. E se ninguém entender? E se eu me machucar novamente? A borboleta voa livre, mas eu... eu sou apenas uma sombra. Como posso romper esse casulo e me permitir ser vista?”

Helena percebeu que a borboleta simbolizava transformação. Assim como ela havia sido uma larva um dia, as pessoas também podiam mudar suas circunstâncias. A solidão é uma prisão invisível; muitas vezes acreditamos que é impossível escapar dela. Mas assim como a borboleta rompe o casulo para alcançar o céu aberto, talvez Helena pudesse encontrar sua própria liberdade.

A tarde, saindo do supermercado foi surpreendida com dois garotos brincando em um carrinho de compras, eles vieram em sua direção derrubando-a no chão. As compras se espalharam e o salto do seu sapato quebrado.Dos joelhos ralados vertiam um sangue vívido.  Pessoas vieram em seu auxílio. Estava mais envergonhada que assustada com o tombo. E curiosa como as pessoas podiam ser generosas. Um calor intenso tomou conta do seu coração.  

Nos dias que se seguiram, ela começou a sair mais, explorando novos lugares e interagindo com as pessoas ao seu redor. Embora a solidão ainda a seguisse numa  sombra persistente, ela começou a perceber pequenas mudanças dentro de si mesma. Cada sorriso trocado e cada conversa breve eram como os suaves toques das asas da borboleta — delicados, mas significativos.

Certa tarde, enquanto observava o pôr do sol na beira do lago, Helena sentiu algo dentro dela se transformar. A solidão não era mais uma prisão; era um espaço onde ela poderia crescer e se reinventar. Assim como a borboleta emerge do casulo para dançar sob a luz do sol, ela também estava pronta para abrir suas asas e abraçar o mundo.

E assim, com o coração mais leve e cheio de esperança, Helena decidiu que era hora de voar.

 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 25/08/2024
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras