Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


 - cenas cotidianas 17

 

 

 "O Silêncio da Calçada"

 

Tito coloca a mão no peito e sente uma forte pontada e desconforto ao respirar .

A calçada movimentada de uma rua comercial fervilhava com a agitação dos transeuntes apressados em suas rotinas diárias. Entre o vaivém constante de pedestres distraídos e o burburinho das conversas superficiais, Tito ,um homem de meia-idade , caminhava lentamente, perdido em seus pensamentos sombrios e preocupações silenciosas.

Foi sem aviso prévio, um aperto lancinante em seu peito interrompeu bruscamente seus passos vacilantes, fazendo-o cambalear e cair de joelhos no chão frio da calçada. O rosto contorcido pela dor intensa e o suor escorrendo por sua testa pálida denunciavam a gravidade do momento: Tito estava tendo um enfarte fulminante, seu corpo traído por anos de negligência e estresse acumulado.

Os transeuntes que passavam por ele naquela manhã aparentemente comum foram pegos de surpresa pela cena inesperada. Alguns olharam com curiosidade momentânea antes de continuar apressadamente seu caminho, ignorando o sofrimento silencioso do homem caído aos seus pés. Outros murmuraram palavras de choque e compaixão, mas optaram por manter uma distância segura, temerosos de se envolver em uma situação desconfortável.

Enquanto Tito lutava para respirar entre gemidos abafados e tentativas fracas de se levantar do chão implacável, poucos se dispuseram a oferecer ajuda concreta. Uma senhora idosa fez o sinal da cruz e murmurou uma prece rápida antes de seguir seu caminho com passos vacilantes. Um jovem estudante digitou freneticamente em seu celular antes de decidir ligar para os serviços de emergência, sua voz trêmula ecoando pela rua movimentada.

Minutos se arrastaram como horas para ele, cuja visão turva e consciência vacilante o levaram a enfrentar a realidade brutal de sua situação desesperadora.

E quando os paramédicos finalmente chegavam para socorrê-lo, ele sentiu o peso da indiferença das pessoas que testemunharam sua agonia solitária na calçada impiedosa.Morreu solitário e sem nenhuma palavra de afeto. 

Só a calçada testemunhou mais uma tragédia humana, onde a pressa e a apatia obscureceram qualquer vestígio de humanidade genuína nas almas ocupadas dos passantes indiferentes.

 

 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 05/07/2024
Alterado em 05/07/2024
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