Dia a dia - cenas cotidianas 16
Julia levantou mais cedo naquele dia para preparar o lanche das crianças que iam a uma excursão pela escola. Deixou seu marido ainda dormindo. Foi para a cozinha sem se preocupar com sua aparência iniciando os preparativos. Bolos, biscoitos e sanduíches. O suco na mochila térmica. Colocou o café na cafeteira e percebeu que ainda não tinha amanhecido. Foi ao banheiro e olhando-se ao espelho percebeu como tinha envelhecido nos últimos anos. A rotina diária de cada dia , marido e três filhos a transformaram. Era assim que pensava. Acendeu um cigarro e bebeu uma xícara de café. Pensou em pegar uma lata de cerveja na geladeira. Conteve-se. Ainda era cedo demais. Aos primeiros raios do sol todos começavam a acordar e Julia mexia ovos para o café da manhã. O marido apressado e as crianças falando alto entre si, tal era a euforia do passeio. Julia mais silenciosa do que de costume, arrumava camas e é ajudava as crianças . Na mesa todos conversavam alegremente. Julia se mantia em pé, na bancada da pia fumando um cigarro. Não tinha a menor fome. Logo o marido deu um beijo de bom dia um pouco forçado e partiu. As criança muito excitadas partiram no ônibus escolar. Sozinha em casa, sentou-se a mesa e mastigando pedaços de pão e ovos abriu a primeira latinha de cerveja. Tinha que arrumar a casa e fazer o almoço. Não tinha pressa, todos só chegariam a tarde. A rotina do dia a dia estava lhe deixando melancólica. Os filhos estavam crescendo e sabia que o marido a traia com outra mulher. Não se importava com estes fatos pois davam liberdade a ela ser o que desejava ser. Mas não queria ser nada. Os anos se passaram e ela não construiu nada para si. Arrumou a casa, pois roupa na máquina. Abriu mais uma lata de cerveja e mexendo a panela com ensopado de frango depositava nele as cinzas do cigarro que lentamente queimavam entre seus dedos. Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 05/07/2024
Alterado em 05/07/2024 Copyright © 2024. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |