Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


Na velhice- cenas cotidianas 14

 

 

Ela sentou na pequena soleira de um caramanchão  num banquinho de madeira. Com um tecido surrado no colo começou  a pintar pequenas telas  em placas de de mdf. Os pincéis e as tintas sobre um caixote improvisado de mesa. 

Pintava memórias e esperanças.  Pintava flores e paisagens. Pintava o tempo. Tempo que não tinha mais. 

Para a vida já perdera  o marido e dois filhos. Deu seu sangue de volta a terra. Aquela terra amaldiçoada que insistia em ser estéril. Aquela terra que a muito não produzia nada. Pintava a aridez dos campos .

Sua pele enrugada pelos dias de sol, por vezes, encharcada de chuva. Alagada em lágrimas. 

Tão frágil corpo, só faltava asas para ser borboleta. Nunca tinha visto na vida uma borboleta. E já tinha visto muita coisa na vida. Agora a visão lhe falhara um pouco mas ainda pintava. 

Resolveu que pintaria o mar sem nunca ter chegado perto dele. Mas tinha visto fotos em uma revista antiga. Ficou tão deslumbrada com a imensidão do mar que duvidou da sua existência. 

Mas decidida,  pintou ondas e barcos e gaivotas. E ficou tão embevecida de mar que adormeceu ali mesmo pensando o que falaria a um peixe quando o encontrasse em outra vida. 

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 03/07/2024
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