Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos


Depois de saborear meu sachê de salmão fui para o peitoral da janela pegar os últimos raios de sol do dia. Logo chegaria a noite e o Lucas entraria pela porta da sala cansado. 

A Verinha já tinha ido para casa então o sossego reinava. Sem barulho de aspirador de pó ou máquina de lavar. 

E Lúcia estava lá, deitada no sofá com os pés para o alto. Como ela engordou nos últimos tempo. E aquela barriga eu conhecia bem, teria pelo menos 6 filhotes ali dentro. Hoje ela esteve mais ativa, arrumando mala, entrando e saindo do quarto cor de rosa, conversando mais com Verinha, parecendo bem disposta. 

Sebastião estava na sua caminha peluda alheio a tudo. Ele não se importava tanto com as alterações do apartamento. E Mimi era outra, só pensava em ficar em cima da barriga de Lúcia amassando pãozinho. Era muito atrevida e nem se assustava com os filhotes se mexerem tanto lá dentro. 

Lucas  chegou sorridente e apreensivo , não entendi direito, mas parecia ter uma felicidade um tanto quanto nervosa. 

A noite ficou um pouco agitada pois logo chegaram papai e mamãe e a insuportável Carina , irmã de Lucia, que tinha alergia a gatos. Eu não entendia a presença deles mas pude observar,  que diferente do dia, Lucia parecia estar sentindo dores. 

Então era isto, chegou o dia de parir. Lembrei logo da minha única gestação em que levei a noite toda para ter meus bebês. Era melhor para Lucia ir para o quarto e esperar por lá. As contrações iam aumentar bastante.  Eles esperaram o tempo passar para decidir ir para a rua . Eu quis gritar " Não, na rua é  perigoso demais " Mas eles não entenderiam. Então miei bastante e demonstrei que estava apreensiva. Mas já era tarde e o apartamento ficou vazio. Não consegui dormir a noite mesmo com o aconchego de Mimi ao meu lado na cama. 

O dia seguinte foi igual. Verinha não apareceu , ninguém voltou para casa. Só a noite que a idiota da Carina entrou para colocar ração no pote e nem limpou a caixa de areia. E o meu sachê? Nada. Eu estava muito preocupada com a Lúcia e os filhotes. 

No outro dia Verinha veio para acabar com o silêncio que já me amedrontava.  Limpou tudo e pôs roupa na máquina. Cozinhou e arrumou o quarto cor de rosa colocando lençóis  na cama cercada de madeira. Ficou alguns momentos admirando a beleza do lugar. Tudo novinho e me empurrou com o pé  para que eu não ficasse lá dentro.

E a tarde eles chegaram, Lucia trazia alguém no colo, muito pequeno e desajeitado, parecia ser um dos filhotes. Esperei pelos outros mas Carina fechou a porta atrás de si. Miei um pouco alto mas queria olhar de perto o que estava no colo de Lucia " vem Jade, ver sua irmãzinha " Ela falava comigo num tom doce. Sebastião  olhou sem muito gosto o filhote sem pelo algum e muito rosado, Mimi tentou tocar e Lucas a impediu. Ainda pensei nos outros mas não encontrei nenhum. Ao aproximar- me eu só queria que Lucia entendesse a minha questão." Daquela barriga enorme só saiu isso? " 

E naquele instante aquela criatura envolta em uma manta e com roupas encobrindo a falta de pelo começou a emitir um barulho e se espreguiçar toda. Ela não sabia falar nem a língua dos humanos e também não miava.  Era muito estranha. De rosa começou a ficar vermelha, eu me assustei , mas não queria sair do sofá. " lambe ela Lucia, que acalma ! " quis dizer. E Lúcia desabotoou a blusa e das enormes telas já saia um líquido transparente, colocou o filhote nos seios que logo sugou com voracidade. " isto Lucia, você está fazendo certo , eles são esfomeados, eu lembro, tive cinco " Logo ela se calou de forma confortável. 

Em seguida comecei a sentir um cheiro estranho e bem familiar. Todos estavam sorrindo, contemplando aquele ser minúsculo. Não entendi, ela acabara de fazer cocô  e o que isto tem de engraçado? " tá na hora de comer, Lucia, e lambe ela bem direitinho " Será que ela entendeu? Eu estava miando o mais claro possível. Ao invés disso , ela tirou aquele amontoado de pano até chegar num saco plástico preso ao bumbum e limpar com um lencinho toda a sujeira que ela tinha feito. Ela, a minha mãe,  estava fazendo tudo errado, talvez nem tivesse comido a placenta,  a notar pela cara cansada que estava. " lambe ela " repeti sem sucesso algum. 

Já dormindo colocaram a pequena numa caminha igual a nossa, ali mesmo em cima do sofá e começaram a conversar baixinho. Eu e meus irmãos nos aproximamos mais ainda para conhecer de perto a nova membra da família. Era feia mas se movimentava vagarosa e fazia um barulhinho bom. Um ronronar estranho confesso mas muito agradável. 

Um tempo depois levaram ela para a caminha de grade que era alta e coberta por um pano vazado. Não podíamos ve-la nem sentir o calor gostoso do seu corpinho. Lucia acendeu o abajour que enfeitou o teto de estrelas cor de rosa. Estávamos felizes, todos, e antes que eles tirassem a gente do quarto pude dizer a Sebastião e Mimi que desejavam subir na cama para ve-la " sossegue, logo  ela vai acordar, não se preocupem, ela é  uma de nós " 

 

 

FIM

Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 01/06/2024
Alterado em 01/06/2024
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