Bonecas de Papel
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Final
Desliguei a tela do computador. Quis aumentar o som da música para não correr o risco de alguém ouvir eu chorar. As lágrimas insistiam em cair mais uma vez e no lugar da raiva imensa que eu estava de fadas e borboletas eu sentia um desejo enorme de ser abraçada por alguém.Nao pela vovó e pela mamãe. Quem quer que fosse. Um abraço somente. Sai da cama em direção ao armário, abri e fiquei na ponta dos pés para alcançar a caixa. A caixa das bonecas de papel. Voltei para a cama abraçada a caixa. De alguma forma eu estava me aninhando num abraço. As lágrimas ardiam meus olhos agora. Respirei fundo. Abri a caixa e cuidadosamente fui tirando os saquinhos de plástico que estavam as bonecas separadas uma das outras. E tinha também dois livros dos quais eu não lembrava. Fui espalhando as boneca, roupas e acessórios por cima da cama. Arrumei uma por uma. Comecei a emitir um som como uma canção infantil e algo dentro de mim, foi se desfazendo. Desfazendo aquela raiva toda. Estava imersa naquela brincadeira, tocando com as mãos as frágeis bonecas de papel. Ainda olhei dentro da caixa e segurei um dos livros. Eram mais bonecas, mais modernas, magnéticas, como eu não lembrava disso ? Que presente interessante ! As roupinhas grudadas nas bonecas. Como a vovó era esperta e antenada. Se a mãe dela passava horas com a tesoura cortando as roupinhas das bonecas, ela encontrou bonecas modernas, em livros magnéticos. Como eu não lembrava disso ? Eu me perdi por tanto tempo na brincadeira que não percebi que anoitecera é que a luz que tinha era do poste lá da rua. E foi neste instante que a porta se abriu e minha mãe entrou no quarto. - O que está fazendo aí no escuro, filha? - automaticamente ela acendeu a luz do quarto. Senti os olhos aderem um pouco. Eles deviam estar muito inchados. Ela ainda não tinha percebido o que eu fazia na cama e ainda perguntou: -Vamos escolher a sua roupa para a Missa da tua avó no domingo ? Foi quando se deu conta do que estava acontecendo. Foi quando olhou realmente para os meus olhos e para minhas mãos. Será que eu iria magoar ela mais ainda ? Ela estava paralisada vendo todas aquelas figuras de papel. Um misto de medo e angústia tomou conta do meu coração. Fiquei parada também, queria guardar tudo aquilo rapidamente mas não conseguia . Não deveria ter pego as bonecas mas estavam toda ali, expostas. Minha mãe se aproximou da cama olhando atentamente. Sentou-se na beirada da cama silenciosamente. Ela não estava chorando. Trouxe os braços para cima dos meus e com as mãos pegava nas minhas, geladas de aflição, e movimentava a boneca fazendo um comprimento. Pensei : - que boneca legal, ela fica em pé com a roupa e os sapatos grudados nelas. Eu queria dizer isto para minha mãe mas fiquei muda. Mamãe não chorava, brincando com a boneca e me aninhando cada vez mais em seus braços . Ficamos assim por alguns minutos. Talvez seria este momento que a vovó dizia que as borboletas saiam para passear. Não sei, nunca saberei. Mas mamãe puxou meu rosto contra o seu e me beijou.Só éramos nos duas e as bonecas de papel que tanto tinha ganhado da vovó. Era um pouco da vovó também. Mas para minha surpresa quando mamãe quebrou o silêncio, ela disse: - Sabe que eu também não gostava muito de brincar com as bonecas de papel que mamãe me dava ? Preferia as Barbies. - e abriu um sorriso quase feliz.
FIM Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 06/03/2024
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