Ana Lago de Luz

E na beleza das flores... e nas ondas do mar!

Textos




Aqui estou eu, olhando pela janela  da sala, sempre atenta a casa vizinha. Vazia a mais de trinta anos, tem uma janela de um dos quartos exatamente na direção da minha sala. A janela tem uma fresta e sempre acho que alguém vai olhar para mim, de lá: um fantasma.
Durante a infância morava uma família lá com filhos e um avô muito simpático.  Eu subia no sofá para gritar para a Jaque para podermos brincar.
O portão desta casa era gradeado e um ponto de encontro de todas as crianças da ruas.
Porém muitos fatos ocorrem nesta casa ainda quando era habitada. A mãe e o pai da minha amiga brigavam muito e um dia ela ameaçou colocar fogo na casa, jogando gasolina nela toda.
Não deu em nada, só o trabalho de limpar tudo. A mãe dela se foi um dia para nunca mais voltar.
O avô que era meu amigo tossia muito e podíamos ouvir lá de casa. Mamãe tinha pena dele, mas ele estava sempre com um sorriso no rosto. Morreu em casa e toda a família dormiu esta noite em casa junto ao corpo do avô. Achei aquilo estranho: tem um morto do lado da minha casa.
Depois veio o pior, a verdadeira dona da casa era a irmã do pai da minha amiga, e ela se instalou na casa. Já éramos adolescentes. Foi uma confusão, pois ela era meio perturbada e quebrava tudo na casa e brigava constantemente com todos. Chegou ao ponto de quebrar um dedo da Jaque batendo o portão enquanto ela tentava fechá-lo.
Logo depois o pai e os dois flhos foram embora e as filhas da tia internaram ela numa clínica. E nunca mais ninguém morou  naquela casa.
Só que a tia fugia constante da clínica, pulava o muro e continuava a quebrar tudo – ela tinha um força danada- e a falar sozinha e fazer muito barulho
Até que um dia, eu saindo para trabalhar ela me falou um coisa que só foi ouvida pela minha vizinha , tamanha minha falta de atenção
- Eu vou pegar uma faca e te esfaquear toda!
A implicância não era comigo. É que eu e a Jaque tínhamos cabelos compridos e encaracolados, ela achou que era a minha amiga. Quando cheguei a casa havia uma ambulância, meu primo pedia para eu não sair de casa, e a filha dela pediam-me desculpa chorando. Foi a última vez que eu a vi.
Se ela tivesse me matado será que seria eu o fantasma?
Caro leitor, dei uma pausa agora, acendi um cigarro, e fui olhar na janela. E nada!
Eu creio que no meio de tanta ausência, tantas pessoas que se foram, não existe mais nada naquela casa, nem um fantasma.



 
 
 
 
 

 
Ana Pujol
Enviado por Ana Pujol em 11/10/2014


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